segunda-feira, 7 de julho de 2014

FILME REAL

As imagens passam velozes
No vídeo frágil da mente
E o crítico, que está interno,
Censura o consciente.

Que papel representei
Dentro da cena cortada?
Às vezes pergunto a mim mesmo
E a cena não é dada.

Talvez tenha sido gravada
Quando o filme se iniciava
Naquele estúdio humano
Em que me encontrava.

E, quem sabe este momento,
Precisasse ter sido apagado,
Para que o final do filme
Não fosse mal representado.


Fábio Guilherme                                                                                            




SERÁ?


Será que você me reconheceria,
Se eu dissesse que te procurei
Nos livros que enfeitam as estantes
E na poesia dos loucos amantes?

Será que você me reconheceria,
Se eu dissesse que te procurei
Na paz e amor do jeans bem surrado
Ou no caimento perfeito de um terno bem comportado?

Será que você me reconheceria,
Se eu dissesse que te procurei
Nas velhas criptas abandonadas
E no rosto das pessoas, vivas e tão apressadas?

Será que você me reconheceria,
Se eu dissesse que te procurei
No manto da obscena virgem imaculada e perfeita
E na nudez da santa, que para o amor se deita?

Será que você me reconheceria,
Se eu dissesse que te procurei
Nas vitrines que enfeitam os Natais
E na desnutrição que entra
Pelas chaminés dos quintais?
                                                                                                                                                 
Será que você me reconheceria,
Se eu lhe mostrasse, enfim, tudo que é meu,
E no momento ocultasse apenas o nome
Que um dia você me deu?

Fábio Guilherme


PALHAÇO


Faz muito tempo, um amigo me contou uma pequena história e eu nunca me esqueci. Talvez ela tenha, na realidade, um pouco de mim:

“Era uma vez, um homem muito triste. Nada o fazia rir. Um dia, por isso, resolveu ir à procura de um doutor:
-Doutor, estou aqui para ver se o senhor me ajuda a sorrir; pois já tentei de tudo que o senhor possa imaginar, mas nada me faz rir.
O doutor pensou... pensou...e teve uma ideia!
-Meu amigo, o seu problema está resolvido. Vá até a esquina próxima e verá um circo, entre e assista ao espetáculo, pois nele trabalha um engraçadíssimo palhaço; Todo que os veem saem rindo como crianças. Vá até lá que certamente você conseguirá rir.
O homem olhou para o doutor, e quase chorando disse:
-Doutor, aquele palhaço... sou eu!”

Fábio Guilherme